segunda-feira, 27 de maio de 2013

Deu no Diário do Nordeste: Plantio de palma revela resistência para enfrentar os males da seca no Município de Tejuçuoca.

Depois de implantar vários programas voltados a enfrentar as adversidades climáticas, o Município de Tejuçuoca, distante 155 quilômetros da capital, localizado no Sertão do Ceará, aposta forte no sistema de convivência com a seca. A região se prepara a para produção da palma orelha de elefante, resistente a cochonilha do carmim, uma praga que causa prejuízos aos produtores. Para isso, áreas de experimento já foram criadas.

A idéia do Prefeito, Valmar Bernardo, que apresentará as raquetes para distribuição entre os produtores rurais, durante a XIII TEJUBODE - FEIRA DE OVINOS E CAPRINOS, que será realizada entre os próximos dias 26, 27 e 28 de Julho. "Vamos investir nessa nova cultura, porque a palma é a grande saída para conter o avanço da fome nos rebanhos de caprino, ovino e bovino no Sertão Cearense", garantiu o Prefeito.

As raquetes serão adquiridas em maior escala, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural, na Empresa Brasileira de Pecuária - EMBRAP em Pernambuco, onde foi feita a pesquisa do espécime. "Queremos, com urgência, fazer parte dessa cadeia produtiva inovadora. Nosso intuito é criar mecanismos de fortalecimento para nossas reservas de proteínas animal, principalmente, para nosso xodó, o bode", salienta Valmar Bernardo.

A técnica é conhecida como cultura de tecidos vegetais empregada por pesquisadores de instituições do Governo Federal e do Governo de Pernambuco para conter a disseminação da praga que já dizimou, de forma irrecuperável, cerca de 100 mil hectares de palma no semiárido de quatro Estados da Região Nordeste: Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Com isso, os Pesquisadores constataram a capacidade de uma variedade resistente (Orelha de Elefante Mexicana) ao inseto cochonilha do carmim.

No site do Laboratório de Biotecnologia da EMBRAPA, a Pesquisadora Ana Valéria de Sousa explica que a produção desta variedade resistente, é a grande saída para os produtores do Nordeste. "Nesta região, existem perto de 300 mil famílias envolvidas com o cultivo da palma. A área plantada, 500 mil hectares, é a maior em todo o mundo. Segundo estimativas das autoridades da área agrícola da região, a destruição dos plantios causou um prejuízo da ordem de R$140 milhões. O impacto na criação dos rebanhos é tão grande que trouxe pânico aos agricultores que assistem a suas plantações serem tomadas pela cochonilha do carmim", explica Ana Valéria.

As pesquisas iniciais para o desenvolvimento do protocolo para a produção das mudas em laboratório desta variedade resistente foram realizadas pela Pesquisadora Laureen Kido, que atualmente trabalha no Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste - CETENE vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A Bióloga e Pesquisadora diz que, "cientificamente, é chamado de protocolo de micro propagação para multiplicação da variedade. Com esse recurso da biotecnologia, a luta para conter e fazer regredir as áreas infestadas ganhou uma ferramenta fundamental", afirma Ana Valéria.

Um dos grandes problemas enfrentados pelas instituições e Governos, para substituir as áreas plantadas por variedades resistentes, era a baixa velocidade de produção das mudas pelos meios convencionais: Pegar a raquete e plantar para esperar crescer e então retirar outras raquetes e levar ao campo em novo plantio. A pouca disponibilidade desse material faria com que a erradicação das variedades susceptíveis pelas resistentes demorasse muito tempo e precisaria, também, de muitos investimentos financeiros.

Esse protocolo, segundo Ana Valéria, "vai permitir produzir milhares de mudas da palma Orelha de Elefante, em pouco tempo. As novas mudas obtidas em laboratório, também, poderão ser plantadas em saco plástico, contendo substrato comum, formado por solo e esterco, como utilizado na propagação convencional. Ao final de um período de três meses de cultivo das mudas em saco plástico, etapa denominada aclimatização, é possível obter mudas viáveis para o plantio em áreas de produtores. A multiplicação utilizando esta técnica de cultivo 'in vitro' é capaz de gerar milhares de mudas a partir de um único fragmento da palma. No entanto, as diversas etapas de produção podem durar até seis meses e o custo final da muda é mais elevado do que a propagação convencional por fragmentos. Mas, ainda assim, a produção das mudas 'in vitro' é mais vantajosa, principalmente quando se considera a relação custo/benefício."

Maiores informações:
Prefeitura de Tejuçuoca.
Rua Mamede Rodrigues Teixeira, 489. Centro.
Telefone: (85)3323.1156

ENQUETE: Que expectativa possui pelo novo plantio?

"É uma nova maneira de apostarmos na convivência com o semiárido. A palma orelha de elefante irá mudar para melhor a vida do homem do campo, porque será uma planta sadia", relata José Luiz dos Santos (Produtor).

"Vamos apostar nessa cultura. Tejuçuoca sempre esteve inovando. Iremos colocar nossos Técnicos à disposição dos produtores para que a nova cadeia alimentar animal aumente ainda mais", diz Valmar Bernardo (Prefeito de Tejuçuoca).

A palma forrageira, planta introduzida no semi-árido nordestino há cerca de 100 anos, é um bom indicador de como a região vem se adaptando ao fenômeno das secas. Uma forte característica é que está sempre verde o ano todo.

A palma vem sendo, amplamente, utilizada para a convivência com as estiagens no semiárido, especialmente nos Sertões de Canindé. Isso porque a planta armazena em seus tecidos nada menos que 90% de água e apenas 10% são de matéria seca. Cactácea, inicialmente, cultivada para a produção de corante (carmim), veio a ser explorada como forrageira em ambiente de intensa instabilidade climática, situação na qual é adaptada por ser uma xerófila, dando importante suporte alimentar a pequenos e grandes ruminantes, como caprinos, ovinos e bovinos. A palma é um concentrado energético de primeira grandeza (com 11% de fibras), chegando a conter 80% de nutrientes digestivos totais (NDT) - teores esses comparados aos do milho.

Daí o interesse dos Pesquisadores que vêm obtendo ganhos significativos de produtividade nos rebanhos testados com esse tipo de alimento, associado a outros que já são comumente utilizados. Além do mais, a palma pode ser aproveitada na alimentação humana, nas indústrias farmacêuticas e cosméticos.

No Nordeste Brasileiro, desde a sua introdução e devido à grande rusticidade e facilidade de desenvolvimento e propagação das mudas, a espécie vem sendo cultivada em condições adversas, nas piores áreas das propriedades e sem o mínimo manejo e tratos culturais necessários ao seu desenvolvimento.

O resultado disso é a baixa produtividade nos plantios. Como termo de comparação, no México, país com características ambientais semelhantes às do Nordeste seco, onde se faz o plantio com mudas selecionadas, preparo de solo, adubação, densidade de plantio e tratos culturais, são garantidas colheitas médias anuais da ordem de 400 toneladas por hectare (volume capaz de suprir as demandas energéticas de 220 caprinos ou 20 bovinos), representando cerca de 8 a 10 vezes mais o volume, atualmente, obtido no semiárido brasileiro, que só consegue produzir o suficiente para 22 caprinos ou 2 bovinos por hectare.

Numa tentativa de reversão desse cenário no Nordeste, ações da iniciativa privada estão sendo postas em prática com o propósito de melhorar a produtividade dos plantios e, com isso, assegurar comida farta e de boa qualidade para os animais criados no Polígono das Secas. Por tratar-se de uma cultura nobre, o Projeto Palma estar superando uma fase ruim de cultivo inadequado dessa cactácea nos limites do semiárido, o qual já se arrasta por um longo período, e servirá de polo de difusão, colocando a cultura em uma posição de destaque, através da reserva de forragem energética em volumes suficientes para os animais, melhorando as condições de convívio do homem nordestino com a seca, promovendo o desenvolvimento da pecuária regional e garantindo importantes benefícios ao ambiente.

Ana Valéria afirma: "A palma é uma forrageira que está presente na grande maioria dos sistemas de criação pecuária no Semiárido. É uma espécie adaptada ao regime irregular de chuvas e às altas temperaturas da região. A planta armazena em seus tecidos nada menos que 90% de água - da sua composição, só 10% são de matéria seca. Além disso, não precisa ser cortada ao amadurecer. Nas secas mais prolongadas, a palma é uma das poucas forrageiras a se manter verde e disponível para a alimentação dos rebanhos. A resistência da planta a transforma numa espécie de 'feno em pé' para os produtores das cadeias de carne e leite de caprino, ovino e bovino no semi-árido. O alto teor de umidade, por sua vez, reduz a necessidade de fornecimento de água aos animais durante o tempo sem chuvas na região."

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