sexta-feira, 29 de março de 2013

SECA NO NORDESTE: Problemática e Solução. Matéria sugerida por Ivan Maurício.

O Blog Djacir Eufrásio & Você possui inúmeras vertentes sempre com o intuito de mostrar a realidade e soluções para diversos problemas que assola nosso povo. Além disso, estamos sempre abertos a recebermos críticas e sugestões; portanto, o Sr. Ivan Maurício nos enviou uma matéria (por sinal, de boa qualidade) mostrando que a seca no Nordeste pode ser amenizada através do desenvolvimento do capital social; mostrando que a seca pode ser uma questão mais econômica do que geográfica.

Observe e leia essa matéria. Vale muito à pena. Desde já, sentimo-nos muito honrados por ser um dos nosso seguidores, Sr. Ivan Maurício; e, agradeço imensamente pela sua contribuição que nos prestou. Felicidades.

CONTRIBUIÇÃO - IVAN MAURÍCIO

 
Recebi do amigo e Engenheiro, José Artur Padilha, este excelente e muito atual artigo do Professor José Eli da Veiga.
 
Ao entrevistar Celso Furtado, a Revista Econômica do Nordeste dirigiu-lhe a seguinte pergunta: Uma das suas grandes contribuições foi pensar, diferentemente, no problema que atingia o Nordeste. Defendia que a questão era mais econômica, com o processo histórico envolvido do que propriamente físico - geográfica, em que a seca apenas acionava as fragilidades ali existentes. Essa visão permanece?
 
Celso Furtado: Sim, permanece. (...) O que percebi é que a seca era engendrada por uma crise social. A verdadeira crise era social, não econômica. (...) Todavia, a compreensão de que a seca é um problema ecológico foi, para mim, definitiva, pois percebi o que ocorreria mais tarde: O Nordeste se enriquece e continua com esse ponto fraco.
 
O maniqueísmo da pergunta e a ambigüidade da resposta só confirmam a dificuldade de pensar a influência recíproca que exercem sociedade e natureza no drama nordestino. O crescimento econômico da região tem sido muito significativo, mas seu 'ponto fraco' continua a ser esse 'problema ecológico' denominado 'a seca'. Querer subestimar o peso da fragilidade físico - geográfica não é menos ridículo do que pretender ignorar as responsabilidades da sociedade em seu agravamento.

O plano de Recursos Hídricos do Estado do Ceará mostra que muitos açudes existentes no Nordeste não atendem à sua finalidade ou não conseguiram encher o suficiente, funcionando mais como evaporímetros do que como fonte segura de água. É que a própria localização dos açudes resultou de decisões políticas orientadas por motivações que contrariaram os mais rudimentares critérios agroecológicos. Um bom exemplo é o Açude Orós, no Estado do Ceará, onde a maior barragem de terra do mundo afogou a principal mancha de solos irrigáveis do Vale do Jaguaribe, além de nada ter sido feito para que seus habitantes se tornassem aptos a usar novas tecnologias de manejo adequado do binômio solo/água.

O Professor Aldo Rebouças, conhecedor profundo das condições hidro-geográficas do Nordeste, diz que sempre houve uma nítida preferência pelo Projeto mais caro e fotogênico de barramento dos rios, além de indisfarçável desconhecimento ou preconceito com relação às águas subterrâneas, cujos Projetos demandam investimentos mais modestos e podem ser construídos progressivamente, com a participação ativa dos agricultores do sertão. Segundo ele, o que mais falta no semiárido do Nordeste brasileiro não é água é sim um padrão cultural que agregue confiança e melhore a eficiência das organizações públicas e privadas envolvidas no negócio da água.

Essa visão de que o problema é mais de escassez de confiança que de escassez de água coincide com o consenso que se vem formando no âmbito de organizações internacionais, como o BIRD, BID, FAO e CEPAL, sobre o capital social como turbina do desenvolvimento. O que aumenta a eficiência da sociedade, facilitando ações coordenadas, são características como confiança, normas e convenções. Uma tese que ganhou muita força com a ampla pesquisa sobre o contraste entre norte e o sul da Itália, coordenada por Robert Putnam, Comunidade e Democracia: A experiência da Itália moderna (FGV - RJ, 1996).

Infelizmente, ninguém sabe direito o que é preciso fazer para criar capital social numa situação em que ele quase não existe. Trata-se, no fundo, da construção de uma novo sujeito coletivo do desenvolvimento que deve exprimir a capacidade de articulação das forças dinâmicas de uma determinada micro/mesorregião, como sugere o trabalho do professor Ricardo Abramovay, intitulado Capital Social dos Territórios: Repensando o Desenvolvimento Rural, apresentado no fim de Novembro em seminário sobre o desenvolvimento sustentável, em Fortaleza/CE.  O que é possível dizer é que essa capacidade de articulação depende de pelo menos cinco requisitos:
• A mudança do ambiente educacional;
• A formação de redes que extrapolem os limites setoriais;
• A formação de associações ou consórcios intermunicipais;
• A criação de mercados que valorizem as potencialidades regionais territorializadas;
• Apoio organizado de instituições de ensino superior (principalmente universidades) da própria região.

Essa capacidade de articulação vem-se revelando na Região Sul do Brasil, em torno do que tem sido chamado de pacto territorial. Isto é, um consenso que permite conseguir outros cinco trunfos:
• Mobilizar os atores em torno de uma idéia-guia;
• Contar com seu apoio não apenas na execução, mas na própria elaboração do Projeto;
• Fazer com que esse Projeto seja orientado para o desenvolvimento das atividades de um território;
• Realizá-lo em um tempo definido;
• Criar uma entidade gerenciadora que expresse a unidade.

Só quando esse tipo de articulação ocorrer pelo semi-árido afora é que o Nordeste se poderá livrar de seu terrível 'ponto fraco' - a curiosa elocução de Celso Furtado. Em vez de teimar em combater a seca, o acúmulo de capital social, certamente, indicará quais são as melhores maneiras de com ela conviver.

Acompanhe o vídeo do PROJETO BASE ZERO - Exibido no Programa Globo Rural, Rede Globo, em 09 de Dezembro de 2012.

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