Especialistas e lideranças cearenses apontam que falta de pressão política, mau planejamento e corrupção favorecem a morosidade da obra. O objetivo da transposição é formar uma sinergia hídrica capaz de ampliar a capacidade de armazenamento dos açudes. A estimativa do Ministério da Integração Nacional é de que a obra beneficie, aproximadamente, 12 milhões de pessoas, em especial dos Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Apesar de a empreitada ter sido mais amplamente debatida nas últimas décadas, o assunto já vinha sendo discutido desde o Século XIX. Em 1847, o Engenheiro Cearense, Marcos de Macedo, defendeu a idéia da transposição do Rio São Francisco no Parlamento. Nos anos 1960, foi a vez do Deputado Wílson Roriz, do Crato/CE, levantar a bandeira, mas ainda como voz isolada.
Na história recente do Ceará, um dos políticos a idealizar o Projeto foi Roberto Pessoa (PR), Ex-deputado e Ex-prefeito de Maracanaú/CE, ainda nos anos 1990. À época, o Ministro da Integração Regional, Aluísio Alves, tocou o Projeto da integração. Entretanto, a obra só seria efetivamente iniciada mais de dez anos depois. "Se esta obra estivesse pronta há pelo menos dois anos, não estaríamos com esse problema grave", critica Pessoa, referindo-se aos efeitos da seca.
A proposta apresentado pelo Ministro da Integração Regional, em 1994, previa a captação de 150 metros cúbicos por segundo, também para a irrigação e em um único canal, sem a revitalização do Rio São Francisco, integrando os açudes Castanhão, Armando Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz. O Projeto atual é de que a vazão seja de apenas 26 metros cúbicos por segundo, de forma contínua, mas podendo atingir até 120 metros cúbicos, caso a barragem de Sobradinho, na Bahia, atinja 90% de sua capacidade.
Na prática, a proposta de reduzir a vazão facilitou que os Estados das bacias doadoras, principalmente, Bahia e Sergipe, apoiassem a idéia; pois, lideranças desses Estados ponderavam que a transposição traria prejuízos financeiros a essas regiões.
De acordo com o Engenheiro Cássio Borges, especialista em recursos hídricos, se o empreendimento já tivesse sido concluído, a população estaria em situação menos precária, apontando que 100 mil cabeças de gado já morreram de fome e sede no Ceará. "Essa seca mostrou mais do que nunca a importância desse Projeto. Esse Programa de transposição é urgente", aponta.
Cássio Borges, ainda, alerta para o futuro do Estado, caso o período seco se prolongue até o próximo ano. "Se tivermos mais um ano de seca, em 2014, eu não sei como vai ficar a situação da população. O que será do Estado do Ceará?", questiona. Outro aspecto apontado por ele é o encarecimento da obra, pois algumas estruturas já estão sendo deterioradas e, portanto, precisarão ser reconstruídas.
O Professor Nílson Bezerra, do Curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará - UFC, acrescenta que um dos motivos que interferem na celeridade das obras é a falta de planejamento do poder público e a burocracia das licitações. "Falta planejamento de instituições mais perenes. Muda a equipe a cada Governo e isso prejudica a continuidade", expõe. E completa: "Há um excesso de burocracia que tenta combater a corrupção, mas não combate. A burocracia é tão grande que encarece a obra e deixa de resolver os problemas mais graves", pondera.
O Ex-deputado Roberto Pessoa avalia que o atraso e encarecimento nas obras são agravados por corrupção nas licitações. "Isso tudo favorece a corrupção, as empresas que vão fazer negociata", diz. Já o Engenheiro Cássio Borges justifica que o valor inicial do projeto, R$4,5 bilhões, é 'irreal'. Ele opina que o Ministério da Integração subestimou o montante para não incitar os opositores da Transposição.
Sobre a morosidade do Projeto, Pessoa aponta a falta de pressão política da bancada federal do Nordeste para dar agilidade às obras. "O Nordeste e suas elites políticas nunca levaram a sério o problema do Nordeste, que tem 27 Senadores e 151 Deputados Federais. Está faltando milho no Ceará, mas o Brasil é o maior exportador do mundo", critica.
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